As marcas de sangue feminino nas “brincadeiras” machistas
Grafite: Panmela Castro
Em tempos de golpes nos direitos sociais, numa sociedade onde mais de 500 mulheres são agredidas por hora (1) e no país em que o presidente da república, no dia internacional das mulheres, diz que elas entendem de economia porque frequentam supermercados (2), a “brincadeira” de péssimo gosto de um grupo de estudantes de medicina, com pouca capacidade intelectual, poderia passar despercebida (3).
Vivemos num país especificamente mais violento para as mulheres, onde os últimos acontecimentos refletem o caráter feminicida da sociedade brasileira. Na semana passada, houve a execução da estudante negra Maria Eduarda (4); nesta mesma semana, se estendendo até os dias de hoje, repercutem nacionalmente os diferentes casos de machismo ocorridos na emissora mais alienante do país (5,6,7) e nesta segunda-feira (10/04), em Aracaju, a estudante Yasmin Costa foi assassinada a facadas pelo namorado (8).
“Pintos nervosos”, foi assim que estes sete futuros “médicos” se identificaram nesta postagem onde aparecem de calças arriadas e fazendo com as mãos um gesto que remete a uma genitália feminina.
Diante deste cenário, tratar este tipo de comportamento inescrupuloso como “brincadeira” de jovens é, no mínimo, ignorar a carga de agressividade e repugnância que este ato traz. A medicina já é uma carreira majoritariamente dominada por homens brancos, assim como várias outras profissões dominadas pela elite nacional. Esta é a mesma elite branca que fica extremamente incomodada quando mulheres, principalmente negras, ocupam as cadeiras das universidades públicas deste país.
É de suma importância a formação crítica e ética de todxs xs profissionais da saúde. Especificamente na prática medica, a ética pode ser analisada sob três aspectos: a relação médicx-paciente, a relação dxs médicxs entre si e com a sociedade. Estes princípios perpassam pela equidade no tratamento aos doentes, pelo respeito à autonomia, sigilo e, principalmente, respeito à vida. Como confiar meu corpo e minha saúde a um profissional que rompe desde a faculdade com os princípios éticos da profissão?
Falta de respeito! Apologia ao estupro! Machismo na sua forma mais devastadora! Foi isso que vimos nas fotos divulgadas por estudantes de medicina da Universidade de Vila Velha, no Espírito Santo (9), a qual até agora apenas emitiu um comunicado informando a abertura de uma sindicância para apurar o ocorrido (10).
Essas fotos representam a sociedade machista em que vivemos e que (de)forma milhares de médicos no Brasil a cada ano.
A sociedade cobra uma retratação pública e a devida punição aos envolvidos neste absurdo! Eles devem voltar a cursar as disciplinas que constroem os valores éticos e morais da carreira médica.
O machismo intra-classe não é menor. Médicas (e, claro, outras profissionais da saúde) são vítimas constantes de comentários misóginos, assédios moral, psicológico e, muito comumente, sexual. Precisam se esforçar o dobro para conseguirem o respeito, o mesmo cargo e salário equivalente ao dos homens.
Sem falar do tão conhecido menosprezo, por parte de alguns médicos, às outras profissões na área da saúde.
Homens! Brancos! Médicos! Pronto! Onipotentes!
A saúde é um direito social e seus profissionais tem a responsabilidade de, além da formação técnica, serem bem formados política e criticamente. Estes futuros médicos estão mostrando que, mesmo diante de muita luta dos movimentos feministas, precisam aprender muito, precisam olhar para além de seus umbigos. A sociedade está mudando e estas pessoas não passarão. Cedo ou tarde cada uma delas sentirá a reação das que nunca trataram com naturalidade a agressão sofrida cotidianamente.
Doses altas de respeito não fazem mal a ninguém!
5- http://www.diariodobrasil.org/apos-jose-mayer-globo-coloca-mais-um-na-geladeira-e-vem-mais-por-ai/
8- http://ajn1.com.br/homem-mata-namorada-e-depois-tenta-o-suicidio/