A infernal política de segurança pública do Rio de Janeiro

“Bem vindo ao inferno”. Esta foi a mensagem que policiais, civis e militares, e bombeiros apresentaram durante manifestação realizada no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, na última segunda-feira, dia 27/06, em que ameaçaram parar seus serviços pela falta de pagamento.

No Rio de Janeiro, muitos vivem cotidianamente no inferno.  Mas a ameaça feita pelos agentes de segurança pública do estado, que estenderam uma faixa com a mensagem “Welcome to Hell”, repercutiu diferentemente na classe média, hipócrita e egocêntrica, que clama por uma paz que é inexistente para a grande maioria da população fluminense e carioca. Porém, parece que esta pressão incomodou, forçando uma ação rápida do estado, que está dando sua resposta à altura. O problema é que, como de costume, a resposta se da através de uma série de iniciativas que vem atender apenas uma parcela privilegiada da população, afetando de maneira bem diferente a maioria dos moradores suburbanos e favelados.

Primeiro, a resposta veio em silenciosas palavras escritas que emitiam som em altíssimos decibéis. O texto do editorial O Globo, do dia 29/06 [2], colocou o dedo na cara de quem quisesse ameaçar a jogada milionária das Olim-Piadas da cidade calamidade. Não interessa se tem gente sendo executada pelo estado, sendo demitida sem direitos trabalhistas, sem salário há mais de 30 dias, com emprego ameaçado, também não interessa se os serviços públicos estão falindo (escolas, hospitais, universidades, IML, etc), o importante é garantir a farra dos gastos públicos e a realização destes jogos hipócritas em uma cidade em estado de sítio.

Em seguida, a resposta apareceu numa missão do secretário de segurança pública, Mariano Beltrame Calamidade, que fez um tour pelas delegacias e batalhões da baixada fluminense, pelo que parece, transmitindo uma mensagem de paz e tranquilidade para os agentes de segurança do estado [3]. O problema que a resposta à esta mensagem não tem o mesmo tom, ela é truculenta e, extremamente, violenta.

Ainda, em rápida ação, veio a terceira resposta: na última quinta-feira, 30/06, mais um jovem foi executado pela PM do Rio de Janeiro – isso para não falar nos muitos assassinatos que ocorreram durante a desenfreada busca pelo “perigosíssimo” traficante Fat Family [5]. A sentença deste adolescente de 16 anos foi definida por estar com um saco de pipoca na mão [6]. Este derramamento de sangue acontece em pleno coração da cidade Olim-PICA, e diante desse panorama, o mascote correto dessa palhaçada esportiva deveria ser o Pipoco [4].

pipoco

Ontem, sexta-feira, 1º de julho, cerca de 15 jovens favelados, em sua maioria negros, desceram o Borel e foram para o asfalto reclamar a morte de Jhonata Dalber Mattos Alves, gritavam por socorro com muita propriedade pois, obviamente, poderia ser qualquer um deles. Nesta noite a segurança pública do governo calamidade agiu rapidamente e os atacou, desta vez, com balas de borracha. Exemplificando bem a forma com que o estado se dispõe a educar a juventude periférica, os carros da PM traziam escrito “ESCOLAR”, explicitando um simbolismo cruel e debochado. É esse o desespero infernal em que vivem as famílias de pretos e pobres dessa cidade, que cada vez mais ficam encurralados em guetos por não serem compradores de bens privados que garantem a sua segurança e paz. Nesta sexta-feira, nos arredores da favela do Borel, os encurralados que lutavam temiam de medo, mas a classe média estava indo dormir em paz, pois, circulavam uns 10 carros da policia e mais 50 policiais, que apontavam seus fuzis para todos os lados, mostrando que a segurança pública calamitosa está a postos.

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A crueldade é tanta que estes policiais, quase todos negros, pareciam se sentir proprietários dos 2,9 bilhões que já estão carimbados para serem gastos com a “segurança pública” da cidade calamidade. Eles parecem estar prontos para atacar a quem ameaçar acender o pavio desse barril de pólvora, que é o Rio Calamidade. O problema é que quem ousar a pedir socorro durante os jogos, corre sérios riscos de morrer com um saco de pipoca na mão depois de receber um pipoco na carne vindo de um fuzil comprado com recursos olímpicos.

 [1] http://www.jb.com.br/rio/noticias/2016/06/28/manifestacao-de-policiais-em-aeroporto-do-rio-repercute-na-midia-internacional/

[2] http://oglobo.globo.com/opiniao/a-irresponsabilidade-de-jogar-contra-rio-2016-19604213

[3] http://oglobo.globo.com/rio/beltrame-afirma-que-policiais-devem-receber-restante-dos-salarios-ate-10-de-julho-19617038

[4] https://mundodoarthur.wordpress.com/tag/pipoco/

[5] http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/em-busca-de-fat-family-pm-do-rj-matou-10-pessoas-em-11-dias-01072016

[6] http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2016-07-01/pms-confundiram-saco-de-pipoca-com-drogas-dizem-moradores-do-borel.html

[7] http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/22/politica/1466550448_610963.html