Israel insulta a inteligência, a dignidade e a humanidade

Duríssimos são os termos escolhidos por um grupo de médicos e cientistas numa carta aberta à Israel publicada pela revista britânica The Lancet, na qual se condena duramente o ataque sobre Gaza e se denuncia as consequências terríveis para a população civil.

Isolada por terra e mar desde 2006, na faixa de Gaza já existiam – antes de este obscuro mês de julho – problemas com o abastecimento de comida e medicamentos ou para que os pacientes necessitados de uma atenção médica mais especializada pudessem sair de Gaza, “tão pouco para estudar, trabalhar, fazer negócios ou visitar a familiares no estrangeiro”.

Entretanto, segundo Paola Manduca e o grupo de médicos britânicos e italianos que assinam a carta publicada na revista médica, os ataques dos últimos 15 dias (e a posterior invasão terrestre) “são crimes contra a humanidade e não podemos permanecer calados enquanto isto continua. As sanções contra Israel devem tomar-se imediatamente”.

Nesta carta os autores asseguram que os ataques à população civil e às instalações vulneráveis, como hospitais, escolas e prédios que albergam a impressa, desmente “a desculpa” de que o ataque tenha como objetivo “perseguir terroristas (…). Na realidade é um ataque de duração implacável, extensão e intensidades ilimitadas”. Como recordam, para qualquer palestino maior de seis anos este é o terceiro ataque militar que sofrem, somando-se as sequelas psicológicas que esta situação trará por um longo prazo.

Os médicos também criticam a proibição israelense de que Gaza receba ajuda exterior para aliviar as necessidades médicas e humanitárias da população civil, e relembra que o 80% dos habitantes de Gaza dependem de ajuda alimentar que proporciona as Nações Unidas. “Inclusive os que querem estar ali e ajudar são impedidos de chegar até Gaza por causa do bloqueio”, denunciam.

Segundo os números do Ministério de Saúde em Gaza e o escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, até o princípio desta semana 149 dos 558 mortos eram crianças, o mesmo ocorre com as 1.100 crianças no total de 3.500 feridos; “isto sem contar com os que podem ainda estar soterrados pelos escombros”. Além disso, ressaltam, que devido os sucessivos ataques “a terra está contaminada com restos de armamento, deixando consequências para gerações futuras”.

Talvez as palavras mais duras sejam direcionadas para seus próprios colegas médicos israelenses, “dos quais somente 5% assinaram um pedido ao seu governo que detenha a operação militar contra Gaza. Estamos tentados a concluir que o resto dos acadêmicos israelenses são cúmplices deste massacre e destruição. Mas também vemos nisso a cumplicidade do restante dos países europeus e americanos, e mais uma vez a impotência das instituições e organizações internacionais para deter este massacre”.

“Nos, como médicos e cientistas, não podemos permanecer em silêncio enquanto este crime contra a humanidade continua. E pedimos aos leitores que também não permaneçam em silêncio. Gaza está presa em um cerco e sendo aniquilada por uma das maquinarias militares mais modernas e sofisticadas do mundo (…). Se aqueles de nós, capazes de falar, deixarmos de nos posicionar contra este crime de guerra, seremos também cúmplices da destruição das vidas e lares de 1,8 milhões de pessoas em Gaza”, concluem.

 

Fontes:

1) Matéria publicada no Jornal Espanhol El Mundo (en español)

http://www.elmundo.es/salud/2014/07/25/53d0dbc7e2704ebc108b4584.html

2) Artigo original publicado na revista científica The lancet (in english)

http://download.thelancet.com/flatcontentassets/pdfs/S0140673614610448.pdf