A CIDADE DA COPA – Remoções, falta de investimento em educação, saúde e transporte público

A democracia em que vivemos é uma democracia sequestrada, condicionada, amputada… As grandes decisões são tomadas numa outra esfera e todos sabemos qual é. As grandes organizações financeiras internacionais, os FMIs, as organizações de comércio, os bancos mundiais… nenhum desses organismos é democrático e, portanto, como é que podemos continuar a falar de democracia.

(Saramago)

No país da copa o que vemos, hoje, é o retrato de um sistema falido que a cada dia investe de maneira enfática no afastamento de qualquer tipo de resistência ao seu desenvolvimento elitista e segregacionista. Desde o início das construções exigidas como condições preliminares para a realização da Copa do Mundo 2014, a população tem presenciado uma série de arbitrariedades e ações que tem como principal foco assegurar a manutenção de um evento bilionário feito para poucos e usado como pretexto para “varrer pra baixo do tapete” a miséria e as deficiências sociais que obviamente estão fora dos Padrões FIFA.

As remoções são apenas uma ponta do iceberg. A retirada de 216 milhões do investimento referente à área da saúde1, o descaso com o sistema de ensino público, a criação e manutenção de forças policiais específicas para controlar a população quando diagnosticado qualquer tipo de resistência às imposições do governo são apenas exemplos do por que, hoje, grande parte da população (cerca de 55%) acredita que a Copa do Mundo 2014 trará mais prejuízos que benefícios2.

Frente ao cenário caótico em que se encontra a cidade do Rio de janeiro (sede da partida final do Mundial) presenciamos mais uma barbárie realizada pelo atual governo de Luiz Fernando Pezão. A remoção violenta de mais de quatro mil pessoas do complexo onde funcionava a antiga Telerj (abandonado há quase 10 anos no bairro do Engenho Novo) trouxe à tona um problema que vem tomando proporções cada vez maiores: a questão da moradia urbana.

Após a desocupação do antigo prédio da Oi, os moradores ocuparam as imediações da prefeitura do Rio de Janeiro. Há aproximadamente uma semana eles permaneceram ali, dormindo em camas improvisadas, se alimentando graças a doações, e contando com o apoio da população e da mídia independente.

Os ex-moradores da Favela da Telerj, hoje se encontram no terreno da Catedral Metropolitana do Rio após mais uma expulsão. Famílias inteiras foram, covardemente, retiradas das proximidades da Prefeitura por forças policiais e mesmo assim não desistiram de reivindicar o direito a uma habitação, a um espaço onde possam permanecer sem o risco do despejo. São crianças, idosos, moradores que saíram de áreas de risco, que moravam em barracos sem saneamento básico etc.

Tenho tido a oportunidade de conversar com algumas das pessoas que fazem parte do que acabou se transformando no mais novo símbolo de resistência da Cidade da Copa, e o que eu vi, ao contrário da campanha alienante e tendenciosa feita pela mídia corporativa, foram pessoas simples, crianças, jovens, adultos, idosos que representam o contraponto de um sistema falido, de uma política feita pela elite e para a elite. São os antigos torcedores que lotavam o Maracanã há décadas atrás, quando em alguns jogos o ingresso chegava a custar R$1,00. Hoje, essas pessoas aindaresistem.

 

  1. http://www.sinmedrj.org.br/informativos/index.php?id=1426
  2. http://deportes.elpais.com/deportes/2014/04/20/actualidad/1398022778_861497.html