O lobo só é mau porque as ovelhas são mansas
Enquanto parte da mídia massifica a ideia de criminalização sistemática dos movimentos sociais e seus aliados, o cenário para o povo que se desloca pela cidade continua um caos.
Parece piada que a passagem de ônibus custe R$3 desde o dia 8 de fevereiro, e que a partir daí a população do Rio de Janeiro enfrente, ao mesmo tempo, engarrafamentos em todas as principais vias do Centro, bem como a sobrecarga dos sistemas de trens e Metrô que, “normalmente”, já funcionavam em situação precária.
Insatisfeito, atualmente o poder público, ao apagar das luzes da terrível Era Cabral, fala em novo aumento no preço desses meios, bem como das barcas, sendo que esta deve ir para surreais R$4,80. Isso, menos de dois meses após uma pane paralisar todo o sistema da Supervia na região metropolitana, prejudicando a vida de milhares de trabalhadores, e de uma tragédia com cinco mortos, depois que um caminhão derrubou uma passarela na Linha Amarela.
Em conversa com a população, ainda há quem acredite que tais fatos foram acidentes. Mas é bom que as discussões partam do princípio de que não foram, pois a reincidência comprova que ambos estão relacionados à ausência de fiscalização por parte de quem deveria gerir o sistema, aliada a um jogo de interesses inescrupuloso, existente entre contratantes e contratadas, nesses casos, as autoridades no âmbito municipal e estadual, e as concessionárias, como a Lamsa, entre outras.
Alguém se esqueceu das gargalhadas do secretário estadual de Transportes Júlio Lopes, no último mês de janeiro, enquanto a população, abandonada, padecia de respostas da Supervia? E das declarações do vice-governador Luís Fernando Pezão, que, segundo consta, está “muito satisfeito” com a empresa que detém a concessão da linha férrea até 2048? Ou ainda das acusações de que o caminhão que circulava em horário proibido na Linha Amarela prestava serviço para a Prefeitura de Eduardo Paes?
Quantos absurdos iguais a esses estão sendo investigados nos órgãos de competência jurídica do estado e do município? Por que a mídia corporativa não dá sequência às apurações? Até quando aceitaremos que abusos e tragédias se sucedam e se sobreponham, sem que haja a devida responsabilização dos culpados, e com a conivência da imprensa?
Enquanto parte da mídia, a serviço do estado, massifica a ideia de criminalização sistemática dos movimentos sociais e seus aliados – defensores da estatização do sistema e da tarifa zero -, principalmente após a fatalidade (ou seria armação?) ocorrida na Central do Brasil, que resultou na morte de Santiago Andrade, cinegrafista da TV Bandeirantes, o cenário para quem se desloca pela cidade, o povo, continua um caos.
Para além da incompetência e da má-fé de quem deveria gerir os transportes no Rio, a pergunta que fica é o que esse pessoal deseja? Testar a resistência da população ou simplesmente debochar da nossa cara, nos passando recibo de idiotas?
Tal conjuntura, a despeito da marginalização imposta e da repressão estatal, não pode servir como fator intimidatório para a população. Devemos continuar a luta por uma sociedade plena de direitos, nas ruas, combatendo os descalabros que nos maltratam e dificultam a vida cotidiana. Afinal de contas, o lobo só é mau porque as ovelhas são mansas!