Da crise na UFRJ ao Polo Xerém: a trajetória do descaso da Pátria Educadora
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) possui um Polo Avançado em Xerém, município de Duque de Caxias. O Polo Xerém foi criado no ano 2008, no marco do programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e forma parte do plano de interiorização das universidades públicas. Atualmente, são oferecidos cursos de graduação em Biofísica, Biotecnologia e Nanotecnologia, promovendo o desenvolvimento científico e tecnológico na baixada fluminense. Hoje, nesta unidade, estudam mais de 500 alunos e mais de 50 professores concursados ministram aulas.
Em janeiro deste ano, durante a posse do seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff divulgou o lema do seu novo governo: “Brasil, Pátria Educadora”. Porém, já neste mesmo mês, o Governo Federal anunciou um corte orçamentário onde o Ministério de Educação (MEC) foi o mais afetado. Desde então, os cortes no orçamento do MEC ultrapassaram 11 bilhões de reais.
Tais cortes repercutiram diretamente no custeio e nos investimentos das universidades federais. No caso da UFRJ, a situação é grave e muitos serviços essenciais estão ameaçados de interrupção, como o pagamento da luz, dos funcionários terceirizados e a remoção de dejetos químicos e biológicos. Os trabalhadores terceirizados na UFRJ já somam cinco mil e se encarregam da limpeza, segurança e das portarias.
No mês de novembro, o Conselho Universitário da UFRJ conclamou ao MEC o repasse emergencial da quantia de R$ 140 milhões para que a universidade possa concluir o período acadêmico de 2015.2. Em resposta, o MEC afirmou que o repasse seria de apenas R$ 33 milhões, menos de um quarto do necessário, o que é insuficiente para a conclusão do ano.
Neste contexto, o Polo de Xerém encontra-se criticamente afetado. Atualmente, a unidade ainda não possui um prédio próprio, enquanto as aulas acontecem dentro de containers localizados no Complexo Tamoio — que também funciona como sede do clube de futebol de Duque de Caxias. Apesar dos esforços da direção e da reitoria, a comunidade acadêmica do Polo enfrenta problemas constantes para pagar o combustível do gerador, única fonte de energia elétrica dos containers. Recentemente, o cancelamento do contrato com a empresa terceirizada Venturelli, responsável pela limpeza das instalações, fez com que professores e estudantes se organizassem para limpar os banheiros, de maneira que as aulas pudessem ser mantidas em minimas condições de higiene.
Sem restaurante universitário nem alojamento, os estudantes do polo — oriundos majoritariamente da baixada fluminense, do interior do Rio de Janeiro e de outros estados — encontram-se em situação crítica, pois dependem das bolsas de auxílio e permanência. Como outras que são fundamentadas no orçamento federal, estas bolsas estão em risco de serem cortadas.
Frente a esta situação, estudantes, professores e técnicos administrativos do Polo Xerém – UFRJ decidiram organizar nesta quarta-feira (09) uma aula pública na praça da Mantiquira, centro social de Xerém. Mais de 200 pessoas saíram das salas de aula às 10 horas e ocuparam o espaço da praça para assistir uma aula de química ministrada pelo professor Robson Roney, vice-diretor da unidade. Após a aula, o grupo decidiu, em assembleia improvisada, marchar em direção à avenida Washington Luiz. Apesar do incômodo ocasionado pela manifestação na principal via de acesso ao distrito de Xerém, a maioria dos motoristas expressou seu apoio aos estudantes, buzinando e batendo palmas.
Artigo redigido coletivamente por professores e estudantes do Polo Xerém – UFRJ.