Não somos todos Palestina

Uma semana após o Exército israelense iniciar a operação “Borde Protector” e já com mais de 200 palestinas e palestinos assassinados – na sua maioria civis – parece pouco o que vem fazendo os governos latino-americanos para tentar deter os bombardeios do principal aliado dos Estados Unidos.

Como era de se esperar, o repúdio mais contundente chegou da Bolívia e Venezuela. O presidente boliviano, Evo Morales, propôs ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) iniciarem uma demanda contra Israel ante a Corte Internacional de Justiça (CIJ) de La Haya por delitos de lesa-humanidade. “Não se pode entender, neste novo século, que existam intervenções de caráter militar tão selvagem e tão inumana – acusou Morales. É um genocídio o que está acontecendo na Palestina”. Cabe lembrar que a Bolívia rompeu relações diplomáticas com Israel em 2009, durante outro brutal bombardeio a Gaza.

O Chefe de Estado venezuelano, Nicolás Maduro, instou,  na sexta-feira passada, a somar-se à campanha feita pelo twitter #SOSPalestina . “O que existe contra Palestina é uma guerra de extermínio. Querem tirar até o último pedaço do território que historicamente lhe pertence. Ao governo corrupto e a cúpula empresaria e militar de Israel não lhes importa matar crianças, homens e mulheres inocentes porque querem desaparecer com o povo palestino da fase de terra.”

O governo bolivariano tinha sido o primeiro à emitir um comunicado sobre o tema, na quarta feira 9 de julho. Porém, para Maduro não é suficiente: “Muitos se conformam com lançar um comunicado oficial. Já basta de comunicados e protocolos internacionais, tem que agir e perseguir a quem está assassinando o povo palestino”.

A Chancelaria de Cuba também tinha difundido uma nota que “condena energicamente a nova agressão de Israel contra a população da Faixa de Gaza” e chama “à comunidade internacional a exigir que à Israel o fim desta nova escalada de violência”. Outro que expressou sua rejeição foi Daniel Ortega, mandatário de Nicarágua: “Como nós não vamos condenar  neste momento o genocídio que  está sendo novamente cometido contra o povo palestino”.

O silêncio não é saudável

Poucos governos da região ainda não emitiram declarações oficiais sobre o conflito. Dentre eles, nada menos do que Argentina e o Brasil.

A presidente argentina, Cristina Fernández, fez uma breve e muito genérica referência durante um encontro com o mandatário russo, Vladimir Putin, no sábado passado: “ É um dever por parte de todos os que exercem lideranças  responsáveis, desmontar situações de conflitividade, desmontar situações de enfrentamentos, e chegar à acordos entre os grandes líderes para garantir à todos os habitantes deste planeta que podemos viver em um clima mias pacífico e mais respeitoso das regras do Direito Internacional.”

Nem preto nem branco

A maioria dos governos que se pronunciaram o fizeram de forma muito morna, recorrendo aos típicos eufemismos e lugares comuns, e alguns apelando a uma espécie de ressuscitada teoria dos dois demônios.

O executivo uruguaio, também através de um comunicado, expressou “sua enérgica condena aos ataques militares efetuados por Israel na Faixa de Gaza, em uma resposta desproporcionada ao lançamento de foguetes contra o território israelense por parte de alguns grupos armados palestinos”. Mas agregou: “Uruguai condena também estes reiterados lançamentos que põem em risco a população civil do centro e sul do Estado de Israel.”

O pronunciamento da Chancelaria  chilena indicou que “os condenáveis sequestros e mortes de três jovens israelenses e de um jovem palestino não podem server de desculpa nem para iniciar ações terrorista, como também não para atacar áreas densamente povoadas por civis.”

Pela sua parte, o Governo do Equador já emitiu dois comunicados. Se bem “condena contundentemente as operações militares desproporcionadas do Exército israelense”, em ambos faz um chamado urgente “a todas as partes envolvidas para um cessar imediato das hostilidades” e “considera indispensável esclarecer os fatos delitivos que ocasionaram a escalada de violência”, em alusão ao assassinato dos jovens israelenses.

Em breve e muito genérico comunicado difundiu o Governo de El Salvador. Alí, faz “um veementemente chamado aos atores envolvidos neste conflito para o cesso imediato das hostilidades”. Algo similar se deduz das duas notas publicadas pela Chancelaria mexicana: “México reitera sua grave preocupação pela escalada de violência entre Israel e Palestina e chama as partes para  se abster à realizar  ações hostis que afetem a população palestina e israelense” . O Governo de Enrique Peña Nieto, além disso, condenou por igual “ lançamento de foguetes e de bombardeios aéreos”.

Organismos e organizações

Dos blocos de integração regional, o único que se pronunciou foi a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA). Os países que o integram rejeitaram “energicamente o ataque perpetrado pelas autoridades de Israel” e “reafirmam sua incondicional solidariedade, apoio e seu pesar ao povo da Palestina”.

Em tanto, uma grande variedade de movimentos populares do continente vem expressando seu repúdio aos ataques israelenses mediante pronunciamentos e atividades nas ruas.

Na Venezuela, realizou-se esta segunda-feira uma concentração em frente à embaixada da Palestina em Caracas. Na quinta-feira passada, também foi organizado uma atividade cultural na Plaza El Venezolano, sob o lema: “Hoje, mais do que nunca, a causa da palestina é nossa”. No Chile, diversas organizações marcharam no último sábado pelas ruas de Santiago acompanhando a comunidade palestina, a maior fora de Oriente Médio. Na Colômbia, integrantes do Congresso dos Povos, o Partido Comunista e a Marcha Patriótica, dentre outros, protestaram na sexta-feira passada em frente à embaixada de Israel em Bogotá. Nesta segunda-feira, organizações sociais da Nicarágua se mobilizaram à sede da ONU junto ao Comitê de Solidariedade Palestina-Nicarágua

Além disso, movimentos populares na Argentina, convocaram a uma manifestação para esta quarta-feira em frente a embaixada israelense em Buenos Aires. A Articulação de Movimentos Sociais até a ALBA Capítulo Argentino declarou: “Condenamos a criminal agressão do Estado de Israel na busca de apropriar-se da totalidade do território palestino, uma ocupação que já possui 47 anos. Exigimos que o governo argentino se expresse e condene a ação israelense, a romper relações com o Estado de Israel e nos somamos ao pedido por um embargo militar à Israel”.

Original publicado em espanhol na revista eletrônica Marcha: www.marcha.org.ar