O medo e a manipulação da participação popular

Se a exposição em mídia global for um parâmetro, a luta contra os desmandos da FIFA já é vitoriosa, sendo esta agenda veiculada em todo o mundo. Mérito de quem iniciou este processo contra quase todos no hoje longínquo ano de 2010.

Restando pouco para o início do evento, o país do futebol debate o calendário pré-eleitoral na tentativa de faturar em cima das ações de rua. A oposição tucana-udenista insiste em tentar deslegitimar os feitos do governo de coalizão, pautando a agenda econômica através da “pressão inflacionária” e o fictício regime de metas como um valor maior do que o emprego direto.

Da parte do governo de centro-direita (sendo no máximo keynesiano), dá-se o inverso. A inclusão ao mundo do consumo e emprego forma a moeda de troca mais do que suficiente para garantir os lucros obtidos pelos campeões nacionais.

Para a inserção do Brasil no centro do capitalismo internacional, foi feito o dever de casa. Somos uma potência média, um dos líderes do G-20 e estamos girando o eixo do mundo para as relações Sul-Sul. O problema é em casa, particularmente nas ruas.

A proposta do governo, através do decreto que materializa a Política Nacional de Participação Social (PNPS), é no mínimo tímida e vista como eleitoreira por parte da oposição e da própria base do Planalto. Minhas críticas vão ao sentido inverso daquela manifestada em furiosos editoriais lacerdistas e discursos à direita.

Não há problema algum em formalizar Conselhos de Participação Popular, pelo contrário. Quando mais instâncias de incidência direta, melhor. Se isto afronta o caduco estatuto da representação indireta, é porque as democracias “maduras” em geral aumentam a distância entre representantes e representados.

Se há algum dilema nesta proposta, é o fato dela ter vindo em ano eleitoral, para faturar na urna o que não foi feito em quatro anos de mandato.

O momento para enfrentar o problema era no segundo semestre de 2013, quando havia uma força popular na rua e disposta a avançar na democracia direta. É muito ruim para o movimento popular brasileiro ver mais uma reivindicação histórica sendo utilizada de forma eleitoreira.

Passado o pleito, a agenda popular terá de acertar contas com o governo de turno, exigindo mecanismos de democracia direta e o aprofundamento da PNPS.

Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat.