Estereotipar o racismo é uma forma de reafirmá-lo
Para o Pavio Curto, é da maior importância a reflexão sobre o fato ocorrido no último domingo, com o lateral-direito do Barcelona e da Seleção Brasileira, o baiano Daniel Alves. Na opinião da coluna, no Brasil, maior nação negra fora da África, essa discussão em torno do racismo nos estádios de futebol ainda é bastante incipiente e até certo ponto hipócrita.
O casal global aderiu ao #SomosTodosMacacos. Ambos não sabem quanto o estereótipo é doloroso (Fonte da foto: Globoesporte.com)
Racistas, fascistas, classistas, homofóbicos e xenófobos também permeiam as torcidas sulamericanas, como pôde ser visto nos episódios envolvendo o volante Tinga, o ex-tricolor Arouca, além do árbitro Márcio Chagas da Silva, este último, ofendido durante o jogo disputado entre Esportivo e Veranópolis, pelo recente Campeonato Gaúcho.
Tais comportamentos são frutos das nossas sociedades historicamente escravocratas, adeptas de um modelo que forma pessoas com mentalidade individualista e preconceituosa. No Brasil, ainda que medidas busquem a reparação das atrocidades sofridas pelo povo negro no passado (e por que não no presente?), infelizmente, ainda não é possível avaliar o futuro sob o prisma do otimismo, uma vez que as autoridades esportivas não tratam o assunto com o devido valor. Prova disso, é que o próprio presidente da Fifa já minimizou fatos racistas ocorridos anteriormente (1).
Identificação, cadeia e banimento do torcedor? Perda de pontos para o clube? Sanções econômicas? O Pavio Curto não sabe se existe uma receita pronta para afastar esse comportamento das arquibancadas, mas tem a certeza de que o futebol é um microcosmo da nossa sociedade, portanto, o assunto deve ser encarado de frente, antes que os estádios brasileiros também se tornem vitrines para este tipo de barbárie, rodada após rodada.
Por fim, a coluna se solidariza com o atleta do Barcelona, apoiando de forma veemente a inteligência e ironia manifestadas, imediatamente após o lamentável ato. No entanto, é preciso reiterar que, a despeito da teoria darwinista, ninguém é ou descende de macacos, assim como tampouco somos todos negros. Por respeito ao indivíduo que foi violentamente insultado em função da cor de sua pele, #SomosTodosDaniel, assim como já fomos Tingas, Aroucas e Márcios.