Brincando de conspirações

Até agora tivemos quatro jogos de copa. Em dois deles, erros clamorosos de arbitragem. Curiosamente ou não, ambos do grupo do Brasil.

O chefe de segurança da Fifa já afirmou recentemente que pessoas contataram árbitros e jogadores pra manipularem resultados. Mas isso só teria acontecido para partidas eliminatórias, no mata-mata, que tivessem “algo em jogo”.

Pelo contexto brasileiro e pela mediocridade dessa seleção, todos seus jogos terão algo em jogo.

Foi evidente o beneficiado no jogo do Brasil. Nada mais precisa ser dito.

No jogo do México, que teve dois gols mal anulados, evidente apenas que não é a equipe de Camarões que se procuraria beneficiar. Mas em quê o Brasil seria beneficiado?

Lá vem a teoria da conspiração…

A única certeza sobre conspirações é que há mais teorias do que fatos. O que significa que as teorias são muitas, mas também que há fatos.

No caso da copa do mundo, não faltam exemplos. E eles sempre vêm como fator de estabilidade da ordem social para o Estado beneficiado e coesão a favor da ética nacionalista. O caso mais escrachado foi na Argentina de Videla (78). Em 70, não precisou de escracho porque o Brasil de João Saldanha era um timaço!

Só nas experiências que vivenciei, lembro daquele jogo da Coréia do Sul contra a Espanha em 2002, roubadaço, em um momento em que o sul buscava se aproximar do norte, pela “Política do Sol”, inspirada na reunificação capitalista da Alemanha. Os próprios alemães ocidentais foram campeões em julho de 1990, em pleno processo de negociação para a reunificação, que viria a se concretizar em outubro do mesmo ano.

As outras zebras também ajudaram seus países.

– A Croácia, semifinalista em 98, três anos depois da guerra na antiga Iugoslávia, tirou proveito do sentimento de orgulho de se pertencer à nova nação para consolidar sua unidade.

– Assim o fizeram Camarões em 94, dois anos depois de eleições fraudadas que perpetuaram o ditador europeizado Biya, ainda hoje no poder;

– e a Turquia de Erdogan que viveu um golpe “pós-moderno” (tipo a pioneira redemocratização brasileira) em 97 e foi semifinalista em 2002.

– Honduras, após o golpe que destituiu o “populista” Zelaya em 2009, conquistou sua primeira participação em copas do mundo em 2010, pro azar da garfada Costa Rica.

Voltemos ao Brasil.

O grupo do nosso esquadrão de ouro se configura com três equipes de nível médio pra bom, que se equivalem tecnicamente – Brasil, Croácia e México – e um saco de pancadas – Camarões, com todo respeito a Eto´o, Obina e conterrâneos. Nesse tipo de grupo, a tendência é os três melhores vencerem duas partidas e perderem uma, enquanto o pior não pontua. Os três, assim, podem empatar em número de pontos e o que acaba decidindo as vagas é o saldo de gols, o quanto conseguem sapecar os leões indomáveis.

Ganhar de 1 a 0 do saco de pancada não é jogo nesse grupo. 3 a 0 daria uma moral e um saldo bem maior pro México. Bom pra seleção brasileira. Melhor teria sido o empate, mas anular três gols complica…

Nessa teoria da conspiração particular, como em todas, nenhuma relação de causa e efeito foi apresentada. Só estabeleci analogias. Vamos ficar de olho pra ver se elas se repetem.

A conclusão é que achei bem mais divertido e construtivo histórica e geopoliticamente pensar conspirações do que torcer pra essa seleção sem graça e pra essa copa que já gerou direta e indiretamente tanto sofrimento. Mas sempre respeitarei integralmente quem o faça.